segunda-feira, 7 de junho de 2010

cotidiano

Acordou às seis horas de uma tarde amarga.Atordoada, o cheiro de cigarro na boca parecia sair de seu estômago, quisera não ter fumado tanto, mas "as coisas parecem, às vezes, ficar sem sentido", então não tinha por que desprezar só mais uma carteira, já era a quarta do dia, e depois de mais de vinte cigarros já teria perdido a conta, se não fosse o pulsar das horas que aquele despertador tinia, ela ainda pensaria estar naquele bar contando todas as desventuras e opostos tragicômicos da vida.

Ainda bem que o relógio disparou.Pulou da cama.Olhou pro nada, a não ser pra foto que há tempos não lhe interessava, o caneco de guardar copos de bebida tem uma frase brega "Love is in the air", ela vai até ele.Lê, sorri desdenhando, mas já está um pouco atrasada pra pensar se joga fora ou não, corre para o guarda roupa, qual será a melhor roupa?não sabe, a roupa pode ser das melhores, mas as tentativas costumam ser frustradas.Não pensa, rouba um short qualquer e a blusa que farta os seios.

Ela costuma andar em desvarios, esqueceu-se se aquele realmente era o apartamento que a esperava, esqueceu-se do número do quarto, e que o elevador, às vezes dá um sobressalto, e entrou.

O copo de vidro era cafona, mas havia três goles de vinho, ela não desperdiçou sequer uma gota, pensou que ele deveria ter se assustado, mas ao contrário tomou-a em seus braços enquanto tocava something.Ela sentia falta da boca dele, do gosto de pasta entre seus dentes, do tom da sua voz e de bagunçar-lhe o cabelo.Ela sentia falta de tanta coisa e não o dizia.É assim quando se tem medo de demonstrar pertencer a alguém, a entrega se cala. Ele a queria profundamente nem que fosse só naquele instante pra elogiar seus lábios e dizer como era belo seu sorriso, qualquer coisa pra a fazer tentar mais uma vez.
Tudo é muito cedo e muito rápido no mundo dos que se apaixonam.Eles sabiam que cada silêncio correspondia à uma fuga de revelar o que sentiam."Eles são pequenos grãos de areia que possuem um mundo em si e se tocam de repente por uma força do universo que não compreendem, e podem se perder também de uma forma que não compreendem".Ela deu o adeus na porta de sua casa, ele soprou alguma coisa definitiva, que pairou no ar feito fumaça tóxica.Quase a intoxica.Quem sabe quando isso vai ser diferente? Ela parou de se perguntar ao passo que fechou a tal da porta e o mundo que a partir dali teria que parar de regar.

2 comentários:

Talita Confusão! disse...

teu coração tá pulsando aqui na minha mão, depois de ler esse texto. Forte!
paz e flores
=*

Suzana Z. disse...

Aff.coração na mão e o vinho borbulhando no estômago...
Bjoks